Encontre debateu as mudanças na produção da notícia desde as jornadas de Junho.
O ano era 2013. O Brasil estava agitado com os maiores movimentos de rua desde a redemocratização e o jornalismo passa por uma crise aguda de credibilidade e financiamento.
Foi a partir dessa provocação que o Território Livre recebeu sob mediação do jornalista e escritor Mauro Donato, Rebeca Motta do Kintê Notícias, Flavio Costa, chefe do setor de investigação do Alma Preta Jornalismo e colunista do UOL e Yan Boechat, da Record TV, para discutir os rumos que o fazer jornalismo tomou desde aquele ano.
o encontro aconteceu neste sábado, 29, na sede do Território Livre, na Santa Cecília – SP. Entre os profissionais que viveram os fatos que antecederam as mobilizações da época, Rebeca Motta, falou sobre como aquele acontecimento, que explodiu logo depois do fim do ensino médio foi responsável pelo inicio da sua carreira no Jornalismo.
“Eu ia muito com meu pai mobilizações da CUT quando ainda era criança, e pela primeira vez eu iria sozinha para um ato tão grande pedindo pelo fim dos 0,20 centavos. Parecia pouco para alguns, mas fazia toda a diferença para a classe trabalhadora, eu precisava participar. Comprei uma câmera (muito barata e muito ruim) e fui pra rua. Demorou um tempo pra entender que aquilo já era um fazer jornalismo, mas hoje eu vejo que o jornalismo independente que eu carrego até hoje nasceu ali, a partir daquele trabalho de campo. Eu já era repórter de rua”, disse.
O debate seguiu analisando o inicio da queda dos jornais como Estadão, Folha de São Paulo, que começou a ter como concorrência novos jornais que nasciam alí, como o Jornalistas Livres e Mídia Ninja – coletivos de comunicadores que aproveitaram as redes sociais para fazer transmissões muito mais baratas, reais e com um olhar diferente do que era apresentado até então para a sociedade.
Os grandes jornais passaram a ser descredibilizados e novos jornais foram abertos – era o inicio de uma nova era para o jornalismo, com o público opinando e construindo junto a notícia.
Outros temas debatidos no encontro foram o fim da obrigatoriedade do diploma, a sustentabilidade de veículos independentes e a análise de modelos financeiros que funcionaram em outros países como o The New York Times – que apostou em um conteúdo único, abrindo mão de releases, para diferenciar seu conteúdo e entregar exclusividade para os assinantes.
A Política também não ficou de fora da roda, com a aproximação das eleições presidenciais de 2026 o grupo discutiu a responsabilidade dos veículos com o jornalismo declaratório, a abertura de espaço noticioso para figuras políticas problemáticas, amplificação de fake news e a criação de uma janela de informações que seja relevante para o público que consome essa produção.
“Foi muito produtivo. É importante acessar esses espaços pra dialogar sobre o cenário, a partir de pontos de vistas diferentes. Eu não vejo uma mudança de mundo possível que não passe pela diversidade de olhares e pensamentos distintos. Quando penso no futuro do jornalismo penso em muitas vivencias reverberadas nos produtos de comunicação, disse Motta.