Taboão da Serra pode retirar homenagem a figura da ditadura do Estado Novo e dar nome de Lélia Gonzalez ao espaço público
A cidade de Taboão da Serra poderá, em breve, seguir o exemplo de diversas localidades no Brasil e no mundo: retirar de seus espaços públicos homenagens a figuras ligadas a regimes autoritários. Tramita na Câmara Municipal um Projeto de Lei, de autoria da vereadora Professora Najara Costa, que propõe a mudança do nome da rua Senador Filinto Müller, localizada no centro da cidade, para Rua Lélia
Gonzales. Justa homenagem a intelectual negra que elevou a análise sobre a raça e gênero no Brasil.
A proposta é parte de um movimento mais amplo de revisão da memória coletiva nos espaços públicos, visando exaltar figuras que contribuíram para a democracia, a justiça social e os direitos civis. O senador Filinto Müller (1900–1973) foi chefe da polícia política durante o Estado Novo (1937–1945), período
marcado por repressão, censura, prisões arbitrárias e tortura de opositores do regime de Getúlio Vargas.
Entre suas ações mais lembradas está a deportação de Olga Benário Prestes, comunista e judia grávida, entregue à Gestapo nazista, vindo a morrer em um campo de concentração.
A iniciativa surgiu a partir de sugestão do aposentado Anderson Fazoli – exjornalista, advogado e professor universitário – que, incomodado ao passar frequentemente pela rua que leva o nome de Müller, procurou a vereadora Najara Costa para sugerir a mudança. A parlamentar acolheu a ideia e elaborou o Projeto de Lei.
“Taboão da Serra não pode conviver com tão sombrio símbolo. É fundamental passarmos tal entendimento às novas gerações”, afirma a vereadora. “Lélia Gonzales é uma referência fundamental na luta contra o racismo, o sexismo e as desigualdades no Brasil. Homenageá-la em lugar de um personagem autoritário também é atender à vontade popular”, completa.
Casos semelhantes têm ocorrido em outras cidades. Em São Paulo, o Viaduto Castello Branco ( o minhocão) teve seu nome alterado para Viaduto João Goulart, presidente deposto pela ditadura. No Rio de Janeiro, foi instalada uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, símbolo da luta por direitos humanos. No exterior, a derrubada ou remoção de estátuas de figuras
ligadas ao colonialismo e à escravidão também ganhou força nos últimos anos, como nos casos de Edward Colston (Inglaterra) e Leopoldo II (Bélgica).
O projeto segue agora em tramitação na Câmara Municipal de Taboão da Serra. Caso aprovado, será mais um passo para que a cidade alinhe sua paisagem urbana aos valores democráticos e de respeito aos direitos humanos.



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