O massacre da Penha é a velha política da morte que tem endereço certo

O massacre da Penha é a velha política da morte que tem endereço certo


O Complexo da Penha amanheceu coberto de corpos. Cinquenta e cinco, deles levados pelos próprios moradores desesperados até a Praça São Lucas, transformaram o chão da favela em cemitério a improvisado. O governo do Rio fala em “operação bem-sucedida”, em “baixas de criminosos”. Mas, para os moradores, a palavra é outra: chacina.

O que o Estado chama de “combate ao crime” é considerado, na prática, uma política de extermínio. Uma ação planejada, legitimada e televisionada contra um território específico: o território preto e pobre.

Enquanto as autoridades tentam “entender o que aconteceu”, a favela já sabe. Sabe que, no Rio de Janeiro, há uma geografia da morte, e a Penha, o Alemão, a Maré e a Cidade de Deus são seus mapas mais conhecidos.

Raull Santiago, ativista e morador, disse: “Nunca vi nada parecido”. E quem vive a favela acredita. Porque cada nova operação é mais brutal que a anterior, cada governo se mostra mais indiferente. O massacre vira número, o sangue vira estatística, e o luto vira rotina.

Quando o Estado mata 60, 70, 100 pessoas em uma única madrugada e ainda chama isso de “sucesso”, o que está em jogo não é segurança pública é controle social. É a manutenção de uma ordem que precisa da morte para se sustentar.

A sociedade adora falar em “pacificação”, mas nunca investiu em saneamento, em educação, em lazer e oportunidades para que o crime seja solucionado na raíz. Quando se investe na infância se planeja um futuro melhor, diferente. Certa vez li na Revista Crescer, que uma cidade que investe na criança é uma cidade que investe no futuro. Quais medidadas para além da política de morte são adotadas nas favelas? Quais outras realidades são mostradas ou projetadas para as favelas? A única presença constante do Estado nas periferias do Brasil é o fuzil. O resto chega tarde, ou não chega.

Amanhã, quando o noticiário mudar de pauta, o morro continuará enterrando seus mortos sozinho.

É preciso nomear o que está acontecendo: isso é genocídio. Um genocídio que não se faz em silêncio, mas sob justificativas burocráticas.

Enquanto o Estado comemora “resultados”, o povo da Penha chora o resultado de anos de abandono social e político. E o país, mais uma vez, mostra quem está no alvo.

EDITORA-CHEFE / REPÓRTER: Formada em jornalismo pela Universidade Paulista, possui 8 anos de experiência com jornalismo periférico e independente, com passagens pelo Estadão Expresso Na Perifa, Agência Mural de Jornalismo, Programa Eli Corrêa, Revista Fórum, Você Repórter da Periferia entre outros.

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