A palavra rege o mundo desde a antiguidade, tá ligado? Muito antes da escrita ela se fez e se estabeleceu como fundamento para tratados e negociações entre povos e nações. A palavra é e está dada como uma forte ferramenta de poder e dominação.
E neste contexto o Slam é um verbo vivo em campo de batalha. Por muito tempo a poesia foi um gênero dominado, escrito e declamado pela burguesia. Basta puxar aí na sua memória quais auto7res te apresentaram na escola, nas aulas de português.
Mas assim como os jovens na década de 60, durante o movimento de contracultura, que questionou e contrariou as normas e padrões culturais vividos pela sociedade da época, a juventude da quebrada tomou posse da poesia e mostra em cada Slam espalhado pela cidade que a favela está letrada, consciente e aguerrida.
Quem nunca fez parte do coro “Se tu ama essa cultura como eu amo essa cultura grita Hip Hop” a plenos pulmões antes de cada batalha, não sabe o que é se arrepiar da cabeça aos pés. A atmosfera de competição pairada no ar, a plateia com os olhos brilhando atenta ao jogo de palavras que instiga o competidor a se dedicar ao máximo para vencer cada round. O MC que pede palmas, empodera e alimenta a competição com bordões e esquetes tudo embalado por um rap, um flow, um beat.
A estética dos movimentos das quebradas é linda demais! (escrevi porque foi exatamente o que pensei quando concluí o parágrafo acima).
Para além das competições a relação entre quem participa das batalhas se dá, sobretudo pelo “correr junto”, pela parceria e fortalecimento de cada batalha que surge para reivindicar as lutas urbanas que a galera enfrenta no dia a dia. Cada linha declamada ali é vivida intimamente por quem escreve. Por isso há entre os jurados, escolhidos aleatoriamente entre o público presente no ato, uma responsabilidade muito grande no julgamento do trampo de cada poeta.
No Dicionário Slam é definido como uma palavra onomatopeia utilizada no inglês para representar uma “batida” de palmas, de porta ou janela. Na prática o Slam faz parte da cultura efervescente e ácida da juventude preta, empobrecida e periférica que bate mesmo e chega junto com os dois pés no peito do sistema que violenta nossos corpos quando nos nega direitos de viver com dignidade na quebrada. E nesse caso, irmão, quem perdoa é Deus ‘nóis’ tamo aqui é pra cobrar! Tamo junto, família!