Outubro é o Mês da Conscientização sobre Perda Gestacional e Neonatal, um período dedicado a honrar as vidas de bebês que partiram precocemente e apoiar as mulheres que que enfrentaram essa dolorosa e silenciosa perda. A iniciativa nasceu nos Estados Unidos em 1988, quando o presidente Ronald Reagan proclamou outubro como o mês para conscientização sobre a morte gestacional e neonatal, e desde então ganhou força em várias partes do mundo, incluindo o Brasil.
A perda gestacional ocorre quando uma gravidez é interrompida espontaneamente, seja em fases iniciais ou avançadas, enquanto a perda neonatal se refere à morte de um bebê dentro dos primeiros 28 dias de vida. Ambas as situações são emocionalmente desafiadoras e envolvem aspectos físicos, psicológicos e sociais que nem sempre são compreendidos pela sociedade.
Não importa em que fase ocorra essa perda, é sempre doloroso, a gestante ou puérpera vive um luto que deve ser respeitado. Quem não sente as mudanças no corpo, na mente e na alma não consegue mensurar a dor de perder alguém que nunca se viu o rosto, mas as mulheres que passaram por essa situação sabem bem o que é viver com a ausência de um ser que por um tempo dividiu o mesmo corpo e o mesmo sangue. Especialistas em psicologia gestacional apontam a importância de evitar frases como vai passar, logo você terá outro, é vontade de Deus, o tempo cura, entre outras
Um dos principais objetivos do Mês da Perda Gestacional e Neonatal é combater o estigma e o silêncio que cercam esses temas. Muitas famílias que enfrentam a perda de um bebê lidam também com a falta de compreensão de amigos, familiares e colegas e principalmente do mercado de trabalho, que muitas vezes não sabem como oferecer apoio ou acabam diminuindo a dor que essa perda representa. A conscientização é, portanto, uma forma de lembrar que essas experiências são reais e dolorosas e que aqueles que passam por elas merecem compaixão e suporte.
Mulheres negras tem mais chance de enfrentar um aborto no Brasil
Estima-se que cerca de 15% a 20% das gestações terminem em perda gestacional espontânea, muitas vezes nos primeiros três meses de gestação. Embora as causas possam variar, fatores genéticos, condições médicas e problemas de saúde materna desempenham papéis significativos. No caso da perda neonatal, complicações durante o parto, doenças congênitas e infecções são algumas das causas mais comuns.
Segundo dados do estudo Nascer no Brasil II, Mulheres negras enfrentam maior risco de perda gestacional do que mulheres brancas, tanto em relação à mortalidade materna como à probabilidade de aborto. Além disso, enquanto o número de mortes maternas está em 46,56 para mulheres brancas, no caso das mulheres pretas, é mais que o dobro: 100,38 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos. No caso das pardas, a incidência é de 50,36. Vale lembrar que o Brasil assumiu uma meta junto às Nações Unidas de redução para 30 mortes até 2030.
Enfrentar a perda gestacional ou neonatal é um processo único para cada família. Algumas delas contam com grupos de apoio, onde podem compartilhar suas experiências e encontrar conforto em histórias semelhantes. O suporte psicológico é fundamental para ajudar essas famílias a processarem o luto e lidarem com as emoções associadas à perda, mas famílias vulneráveis não tem essa ferramenta a disposição e precisam seguir em frente silenciando uma dor que pode ter consequências por toda a vida.
Nos últimos anos, redes de apoio e iniciativas como a criação de memoriais e rituais específicos, como o “Dia Internacional da Conscientização sobre Perda Gestacional e Neonatal”, em 15 de outubro, têm contribuído para o acolhimento de famílias em luto.
Como a sociedade pode ajudar
A sociedade tem um papel importante no acolhimento das famílias que enfrentam a perda de um bebê. Isso começa com a conscientização sobre o tema e o reconhecimento da profundidade dessa dor, evitando julgamentos, além de oferecer escuta ativa e apoio emocional como uma forma de contribuir para a quebra do silêncio e ajudar essas famílias a lidarem com o luto.
Conclusão
O Mês da Conscientização sobre Perda Gestacional e Neonatal é um convite para que todos reflitam sobre o impacto dessa experiência e sobre como podemos ser mais empáticos e solidários e respeitar a lembrança dessas vidas, ainda que curtas, tiveram um impacto enorme na vida das mães.